segunda-feira, 30 de março de 2009

2008 | Viagens à tasca em período de férias X

De regresso a Londres para continuar o autêntico rally às tascas melómanas. Os preços continuavam a surpreender e a bagageira de mão a encher… Depois da dança hedonista com os The Go! Team e do majestoso fascínio do texano Devendra Banhart, segui viagem pelo Texas e ao som dos amigos de longa data …And You Will Know Us By The Trail Of Dead (…AYWKUBTTOD). Banda que em 2002 editou o seminal «Source Tags & Codes» e que desde então tenho como obrigatória. É certo que os últimos registos têm ficado um pouco aquém do desejado (vamos ver se o novíssimo «The Century Of Self» altera um pouco o cenário), mas o facto é que a cada nova audição de «Source Tags & Codes» as esperanças nesta banda texana renovam-se. Temas como «Another Morning Stoner» (surpreendente a sua cadência em crescendo), «Baudelaire», «Homage» (verdadeiras pedradas no charco prog-rock), «How Near How Far», «Relative Ways» e «Source Tags & Codes» (rock épico com melodias pop de crescer água na boca) assim o exigem. É certo que não mais voltei a ser surpreendido por esta banda de Austin. Contudo, lá fui coleccionando os discos, sendo que «Madonna» (2000) foi ficando para trás (os preços portugueses assim o obrigaram). Como em Londres bastavam £ 3,00 para ter «Madonna», não hesitei. O segundo álbum dos …AYWKUBTTOD e o antecessor de «Source Tags & Codes» mostra já uma banda em excelente forma, a tocar um coeso prog-punk-art-rock épico e único para a sua época. Temas como «Mistakes And Regrets», «Mark David Chapman» e «Aged Dolls» já anteviam o que acabou por acontecer com «Source Tags & Codes», ou seja, um disco sónico e repleto de energia que evocando a aspereza de uns Sonic Youth, a pujança de uns Fugazi e a distorção de uns My Bloody Valentine, consegue alcançar melodias que têm percorrido os nossos sonhos desde «Siamese Dream» (The Smashing Pumpkins), «Automatic For The People» (R.E.M.) ou mesmo «Worst Case Scenario» (dEUS). Não sendo nenhum «Source Tags & Codes», «Madonna» também não deixa de ser um brilhante exercício indie rock dos …And You Will Know Us By The Trail Of Dead.
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Persisto no rock para voltar a falar dos escoceses Mogwai e, espantem-se, do futebolista francês Zinedine Zidane. Estávamos em Abril de 2005 quando a dupla de realizadores Douglas Gordon e Philippe Parreno levaram dezassete câmaras para um estádio de futebol para documentar todos os movimentos de Zidane num jogo do Real Madrid. O objectivo seria, durante noventa minutos, mostrar ao pormenor toda a beleza e personalidade do futebol de Zidane. O resultado visual ainda não sei qual é. Porém e por £ 2,00, decidi dar um primeiro passo na descoberta de «Zidane: A 21st Century Portrait». Como já devem ter adivinhado, a banda sonora está a cargo dos post-rockers Mogwai. A música reveste-se de um hipnótico downtempo que tanto pode enveredar por um caminho de inquietação/angústia (ouça-se o soberbo «Half Time»), como seguir uma vertente mais etérea e aprazível, mas menos surpreendente (as sequelas «Black Spider» e «Terrific Speech» são um bom exemplo disso mesmo). Em suma, os Mogwai, com o seu característico minimalismo rock, revelam capacidades na construção de retratos musicados, sejam eles pessoais ou paisagísticos (tenho que voltar a destacar «Half Time» que, apanhando a boleia dos Sigur Rós e durante seis minutos e meio, nos evoca algumas das mais bonitas paisagens escocesas; ou serão elas islandesas?). No entanto, o resultado final não surpreende, pois os ritmos e melodias repetem-se e os adereços sonoros deste retrato do século XXI revelam-se aborrecidos e já conhecidos nestes Mogwai. Inesperadamente o disco despertou-me o interesse em descobrir «Zidane: A 21st Century Portrait», o documentário.
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Chegamos aos The Libertines: fãs convictos dos Oasis que na hora de compor preferiam a companhia de uns The Clash ou uns The Kinks. Confesso que nunca engracei muito com esta banda inglesa. Porquê? Essencialmente, porque os anunciaram como uma resposta inglesa aos The Strokes e, verdade seja dita, os primeiros singles que me foram apresentados ficavam a léguas de tudo o que se relacionasse com a banda de Julian Casablancas. O entusiasmo pelos nova-iorquinos perdurou e os The Libertines, que acabaram por ter uma história fugaz, lá ficaram esquecidos. Que me traz então a esta rapaziada agora? O meu incansável desejo em descobrir e conhecer coisas novas e as £ 3,00 que me pediram pela compilação «Time For Heroes». Pensado para mostrar o «best of» dos dois álbuns e três EP que marcaram a curta e conflituosa parceria de Carl Barât e Pete Doherty (as forças motrizes deste colectivo londrino), o disco reúne os singles de «Up The Bracket» (2002) e «The Libertines» (2004), o orelhudo «Don’t Look Back Into The Sun» - tema que justificou a edição de um EP exclusivo para o mercado nipónico - e alguns lados-b. O revivalismo do garage punk rock britânico surge aqui em boa forma, com excelentes momentos como «What A Waster», «Up The Bracket», «I Get Along» ou mesmo «Time For Heroes». Há, também, espaço para exercícios mais propensos ao indie rock, como são exemplo «Can’t Stand Me Now» e «Don’t Look Back Into The Sun». Porém, a música desta geração Oasis parece ter mais fama que proveito. Encontramos, de facto, canções muito boas e a colectânea até chega a entusiasmar, mas no fim há um qualquer sentimento de vazio que me arrasta a «Is This It», dos The Strokes. Por que será?
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De Londres seguimos a nossa aventura musical em direcção a Liverpool para chegarmos a Hoylake e aos The Coral. Banda que iniciou actividade em 1996, mas que só em 2001 lançou o seu primeiro single. «Shadow Fall» é, ainda hoje, um dos momentos chave na história deste quinteto. Em três minutos e meio, uma psicadélica folk russa invade a lúgubre bizarria da produção Gorillaz, piscando o olho a Morricone e Kusturica. Promissora estreia que abriu o caminho a mais algumas curtas edições antes do lançamento do homónimo álbum de estreia. «The Coral» (2002) foi muito bem recebido pelo público e pela imprensa especializada, chegando mesmo a ser nomeado para o prestigioso Mercury Music Prize. O revivalismo da folk psicadélica dos anos 60 dava de caras com algumas das mais importantes e inesperadas influências do rock moderno. «Dreaming Of You», outro dos singles que promoveram o disco, é um delicioso momento brit folk pop (ou será world folk pop?). Por sua vez, «Goodbye» - que parece inspirado num riff de Kirk Hammett - revela uma vertente mais garage punk folk. Mas existem mais pontos de interesse. «Spanish Main», «I Remember When», «Skeleton Key», «Wildfire», «Calendar And Clocks», … Tudo boas razões para apostar nestes The Coral e nos seus cinco álbuns de originais. Entretanto, e para quem já segue os passos desta banda, ou pretende vir a seguir, aviso que há uns meses foi editada a colectânea «The Singles Collection». Excelente colecção de canções que nos oferece um novíssimo singleBeing Somebody Else») e um segundo disco repleto de raridades e lados-b. Querem melhor?
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Os Lambchop são outros dos amigos de longa data que reencontrei em Londres. A banda de Nashville editou recentemente «Oh (Ohio)», mas é a compilação «The Decline Of The Contry & Western Civilization (1993 – 1999)» que merece aqui o meu destaque. Colecção de singles e raridades que a banda registou entre 1993 e 1999, ou seja, o período entre o debut «I Hope That You’re Sitting Down (a.k.a. Jack’s Tulips)» (1994) e o reconhecimento global em «Nixon» (2000). Uma verdadeira retrospectiva dos primeiros anos de actividade destes Lambchop: alternative-country que recupera o funk e a soul dos anos 70, sem nunca esquecer o rock veloz dos anos 80 (ouçam-se «Nine» e «Loretta Lung»). Deparamo-nos com canções mais delicadas e, igualmente, mais adequadas à musicalidade Americana dos Lambchop, como são os casos de «Soaky In The Pooper», «Playboy, The Shit», «Whitey» e o extraordinário «The Gettysburg Address». Paradoxalmente, e sendo esta uma compilação de singles e raridades, encontramos também alguns momentos mais experimentais e menos consensuais. «Two Kittens Don’t Make A Puppy», resultado de uma colaboração com Mac McCaughn, dos Superchunk, e Mark Robinson, dos Unrest, é a maior extravagância de Kurt Wagner. Canção inenarrável que mistura um trompete desvairado, com beats descontrolados e com vocalizações disparatadas. Esquizofrenia sonora que não é habitual na banda, mas que nos dá uma visão maior sobre as valências desta família Lambchop. Razão pela qual este «The Decline Of The Contry & Western Civilization (1993 – 1999)» se revela um importante registo na história dos Lambchop e da música Americana. Excelente trabalho que documenta a evolução de uma das mais importantes entidades da música norte-americana.

Para terminar recupero «Mistakes & Regrets» dos …And You Will Know Us By The Trail Of Dead e «Dreaming Of You» dos The Coral.



domingo, 29 de março de 2009

Bat For Lashes | Daniel

A britânica Natasha Khan e o seu projecto Bat For Lashes está de regresso aos álbuns e aos vídeos. Depois de se mostrar com o surpreendente «Fur And Gold», álbum que em 2007 perdeu a corrida do Mercury Prize para «Myths Of The Near Future» dos Klaxons, surge agora «Two Suns». O primeiro single é «Daniel» e mais uma vez se sentem as fortes ligações a nomes como Björk, Tori Amos, Fiona Apple e Kate Bush.

sábado, 28 de março de 2009

Department Of Eagles | No One Does It Like You

«In Ear Park», segundo álbum dos Department Of Eagles (duo composto por Daniel Rossen, dos Grizzly Bear, e o amigo de faculdade Fred Nicolaus), foi um dos grandes registos de 2008. Razão mais que sufuciente para apresentar aqui o seu novíssimo vídeo para o soberbo «No One Does It Like You». O vídeo é realizado pela dupla Patrick Daughters e Marcel Dzama.

sábado, 21 de março de 2009

PJ Harvey & John Parish | Black Hearted Love

A dupla PJ Harvey & John Parish está de regresso aos discos. Depois de uma primeira aventura com «Dance Hall At Louse Point» (1996), surge agora «A Woman A Man Walked By» (com edição marcada para o próximo dia 30 de Março). Enquanto o disco não chega, deixo em alta rotação o vídeo do primeiro single: «Black Hearted Love».

sexta-feira, 20 de março de 2009

2008 | Viagens à tasca em período de férias IX

Continuo nas estantes dos saldos londrinos para destacar aqui um dos mais marcantes inícios de carreira da última década, o do singer-songwriter Devendra Banhart. Nascido em Houston, Texas, e criado na Venezuela, Devendra Banhart é um dos principais responsáveis (senão o principal responsável) pelo aparecimento do movimento «New Weird America», ou, se preferir, «freak psych acid e-mais-qualquer-coisinha indie folk». Usualmente comparado com artistas como Nick Drake, Syd Barrett, Bob Dylan, Tim Buckley, Daniel Johnston ou mesmo Marc Bolan e Caetano Veloso, a musicalidade de Banhart assenta em arranjos simples e melodias certeiras que nos transportam para um lirismo surrealista e naturalista. Entoações que chegaram ao e-mail de Michael Gira, dos Swans e Angel Of Light, e daí à edição de «Oh Me Oh My…» (2002) foi um pequeno passo. A surpreendente e despretensiosa estreia de Banhart pela Young God Records revela um novelista capaz de melodicamente esculpir as suas histórias numa pequena caixa de fósforos. Suavidade que se poderá comprovar em clássicos como «A Gentle Soul», «The Thumbs…», «Happy Happy Oh», «Animals…», «Michigan State», «Pumpkin Seeds» ou «Soon Is Good». Contudo, a bizarria também está presente e temas como «Lend Me Your Teeth» e «The Red Lagoon» revelam momentos mais heterodoxos. Elementos que engrandecem as canções de Devendra Banhart e que se mostraram novamente no sucessor e, também, admirável EP «The Black Babies» (2003). Um disco mais conciso e luminoso, no qual o singer-songwriter demonstra todo o seu talento à guitarra e arte na hora de cantar (impressionante a forma como o timbre de voz de Banhart se coloca entre a harmonia de um Tim Buckley e a esquizofrenia de um Marc Bolan). Devendra Banhart volta, assim, a cantar e a encantar, colocando o seu nome na história da música norte-americana do século XXI.

Para terminar deixo o vídeo da emocionante interpretação de Devendra Banhart no programa Jools Holland com o tema «A Sight To Behold» («Rejoicing In The Hands», de 2004).
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segunda-feira, 16 de março de 2009

Franz Ferdinand | No You Girls

Os escoceses Franz Ferdinand, banda que acaba de confirmar a sua presença na edição deste ano do Festival Paredes de Coura, já escolheram o segundo single do mais recente «Tonight: Franz Ferdinand». Depois da dança hedonista em «Ulysses», surge agora o vídeo do não menos empolgante «No You Girls».

domingo, 15 de março de 2009

2008 | Viagens à tasca em período de férias VIII

Regresso a Londres para apresentar alguns dos títulos adquiridos nos já usuais saldos estivais. Ora bem, coincidência ou não, o facto é que dois dos trabalhos mais representativos da actual multiculturalidade britânica acabaram na bagagem de mão por troca de £8,00. «Thunder, Lightning, Strike» e «Proof Of Youth» são dois álbuns grandiosos, que fazem dos The Go! Team uma das forças criativas mais excitantes da actualidade. Criatividade que nasceu nas ruas de Brighton e que resulta de uma estimulante fusão de samples que nos transportam para cenários sensacionais de uma qualquer série televisiva dos anos 80 e que, musicalmente, tanto pode beber do funk dos anos 70, como do hip hop embrionário de início de 80. Em suma, os The Go! Team oferecem-nos canções festivas e nostálgicas. Temas que deambulam por territórios intensos, mas esquizóides, como são os dos The Avalanches, 2 Many DJ’s ou mesmo RJD2, mas que crescem ao som da aspereza de uns Sonic Youth, da pop de uns Felt e da perspicácia de uns Public Enemy. Um verdadeiro festim pop que nos brinda com o que de mais espectacular se viu na TV da minha juventude: vistosos acidentes de carro; heróis de skate e BMX; aviões supersónicos; corridas de carros e motos; aventuras BD em épocas tribais; cheerleaders; etc.; etc.; etc. «Thunder, Lightning, Strike» (2005) é tudo isso e muito mais. Agitação «in your face» capaz de abalar o mais céptico dos melómanos. Musica vitaminada que nos dá força para enfrentar as vicissitudes do dia-a-dia. Demanda da canção pop e dos novos desafios que se vão colocando à música e aos seus criadores. Trabalho que viu em «Proof Of Youth» (2007) um distinto sucessor e a continuação perfeita deste mundo de aventuras dos The Go! Team.
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Para terminar deixo dois vídeos que mostram a força e vitalidade desta banda britânica: «Ladyflash» (de «Thunder, Lightning, Strike») e «Grip Like A Vice» (de «Proof Of Youth»).



domingo, 1 de março de 2009

Death Cab For Cutie | Grapevine Fires

Os norte-americanos Death Cab For Cutie estão de regresso aos vídeos. Depois de «I Will Possess Your Heart», surge agora «Grapevine Fires», segundo single e melhor tema do mais recente álbum «Narrow Stairs». O vídeo é realizado por Walter Robot.