quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Panda Bear | Comfy In Nautica


É mais um dos grandes temas de 2007 a passar do stereo para a televisão, ou melhor, para o mundo virtual. Noah Lennox, mais conhecido pelo seu papel de Panda Bear (tanto em nome individual como nos Animal Collective), acaba de editar mais um single do aclamado segundo disco de carreira «Person Pitch». Depois de «Bros», a escolha recaiu sobre «Comfy In Nautica», outro exercício de mestre na arte copy&paste. O vídeo é realizado por Patrick O'Dell e Sam Salganik.
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terça-feira, 30 de outubro de 2007

David SuperStar

«Dreams In Colour», terceiro álbum a solo de David Fonseca, é desde há algumas semanas o disco mais vendido em Portugal e «Superstars», o excelente primeiro single, não para de rodar no éter da rádio mais próxima do seu ouvido. Desta forma os denominados showcases, promovidos pelas várias estações de rádio e estabelecimentos comerciais, multiplicam-se. Recentemente tive a oportunidade de estar presente num desses encontros promocionais. O local era a Mega FM. Confesso que não digiro bem a Mega FM, mas tinha curiosidade em ver e ouvir David Fonseca num espaço mais reduzido e assim fez-se o jeito. Com capacidade para receber cerca de trinta a quarenta pessoas, o espaço estava a abarrotar e o anunciado mega concerto (de acordo com o dicionário «Mega radiofónico») foi bem agradável. David, uma pessoa com um sentido de humor apuradíssimo, não desiludiu, apresentando três temas de «Dreams In Colour» («4th Chance», «Kiss Me, Oh Kiss Me» e o já inevitável «Superstars») e «Someone That Cannot Love» do debut «Sing Me Something New». No fim houve tempo para uma curta troca de impressões, autógrafos, beijos e abraços…
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Mudando completamente de assunto (ou talvez não), «Dreams In Colour» encontrava-se na lista de espera para se revelar neste espaço. Aproveitando a boleia do «mega concerto» (de quatro temas) e da preferência da maioria dos portugueses, deixamos de lado as derradeiras «viagens à tasca em período de férias» e damos especial atenção a «Dreams In Colour». David Fonseca, homem com créditos firmados em território nacional, deixou há muito de ser reconhecido como o frontman dos históricos Silence 4. Depois de dois álbuns em nome próprio bem sucedidos (tanto comercial como musicalmente) «Dreams In Colour» está aí para comprovar o estatuto de David Fonseca e consolidar ainda mais a sua importância no panorama pop/rock português. Mais uma vez as referências parecem ser as certas e mais uma vez parece conseguir transmiti-las a públicos tão distintos como a geração «Morangos Com Açúcar». No entanto, algo mudou. A melancolia e lugubridade, elementos predominantes em «Sing Me Something New» e «Our Hearts Will Beat As One», parecem colocadas num segundo plano. A pop solarenga associada ao festim de início de estação e aos «pa pa pa pa ra ra pa pa» evidenciam-se. «4th Chance» segue o espírito do super-grupo Humanos. «Kiss Me, Oh Kiss Me» está banhado com o perfume dos noruegueses Kings Of Convenience. «Silent Void» respira o rock radiofónico de uns The Killers (a última grande paixão de David Fonseca), «This Wind, Temptation» junta o melhor dos Pixies com o suspense característico dos Radiohead. «I See The World Trough You» encaixa-se perfeitamente na esfera de interesses de um Damien Rice e «Superstars» (apesar das claras diferenças é impossível não o associarmos ao proveitoso assobio de «Young Folks» de Peter, Björn & John) é mais uma das canções de David Fonseca que faz a festa toda, ou seja, lança os foguetes e depois ainda apanha as canas. Lá pelo meio encontramos a fantástica versão de «Rocket Man», de Sir Elton John. É mais um excelente regresso de David Fonseca que volta a cantar e a encantar Portugal.
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Como despedida deixo o vídeo promocional de «Superstars», realizado pelo próprio David Fonseca.

domingo, 28 de outubro de 2007

!!! | Yadnus

É certo que «Myth Takes» não é nenhum mistake na carreira dos !!! (Chk Chk Chk), mas após o soberbo «Louden Up Now», álbum que nos deu os singles «Pardon My Freedom» e «Hello? Is This Thing On?», a efervescência new wave electro-punk de «Myth Takes» parece ter fugido para a barriga das pernas. Contudo, após «Heart Of Hearts» e «Must Be The Moon», «Yadnus» surge com a força de uns Queens Of The Stone Age e reacende a chama por esta banda norte-americana.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

2007 | Viagens à tasca em período de férias IX

De volta ao período de férias, à cidade e às tascas genebrinas. O inter-rail helvético mostrou um país onde a natureza vive no seu esplendor máximo. Os campos são verdes, o ar é puro e a organização é marca de referência. No entanto, e como nada é perfeito também encontramos alguns pontos negativos e nesta última passagem do campo para cidade deparámos com uma propaganda chocante do partido de extrema direita (UDC - União Democrática de Centro).
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«Para mais segurança»...

Passado o primeiro impacto demos logo de caras com uma tasca (daquelas a que ninguém parece dar atenção) em liquidação total… Desgraça das desgraças estará a pensar. Encontrámos variadíssimos títulos a preços tentadores, mas na factura final só figuraram Benjamin Biolay (para muitos o Serge Gainsbourg do século XXI) e os suspeitos do costume: Interpol.
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A colheita foi muito boa, principalmente porque voltámos a aprofundar o reportório francófono. Desta vez a escolha recaiu sobre a estimulante discografia de Benjamin Biolay. De uma assentada, e por menos de 25,00 FCH, preenchemos os lugares deixados em aberto lá em casa, na discografia do dito senhor (faltando o mais recente «Trash Yéyé» que na altura ainda não tinha sido editado e que ficará para outras núpcias).
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Comecemos então pelo início. Desde cedo que Benjamin Biolay estabeleceu contacto com a música. O pai, um adepto ferrenho do clarinete, inscreveu o filho nas aulas de violino e, mais tarde, tuba e trombone. Contudo, nenhum destes instrumentos seduziu Benjamin e foi, posteriormente, através da guitarra e da cultura pop norte-americana que Biolay desenvolveu o seu apuradíssimo sentido para a construção de texturas e melodias pop. Depois de ter assinado contrato com a EMI e ter editado dois singlesLa Révolution», de 1997, e «Le Jour Viendra», de 1998) sem grande sucesso, Benjamin conheceu Keren Ann, com quem compôs alguns temas para Henri Salvador e produziu os dois primeiros álbuns da artista israelita («La Biographie de Luka Philipsen» e o soberbo «La Disparition»). Pelo meio surge a sua estreia discográfica com «Rose Kennedy», um dos mais saborosos chocolates trazidos da Suiça… Se «Négatif» (único álbum conhecido até à data) mostrava um compositor acima da média, com algumas tendências melancólicas, «Rose Kennedy» comprova a grandiosidade e todo o glamour que há na música de Benjamin Biolay. Aqui, o requinte é a principal arma de sedução. «Novembre Toute L’Annee» traz consigo uma leve névoa de nicotina que se entranha à medida que o disco se desdobra. «Les Cerfs-Volants» segue o trilho de «My Way», imortalizado por Frank Sinatra, mas a referência maior é Serge Gainsbourg. «La Melodie du Bonheur» é a fusion perfeita da chanson française e da sonoridade «Norah Jones». «L’Observatoire» é a marca registada Benjamin Biolay que fez história em «La Disparition» de Keren Ann: minimalismo acústico associado a ambientes trip-hop e com adereços clássicos. «La Monotonie» é tudo menos monótona; o ambiente parece retirado de uma película do agente secreto 007, onde o suspense e a sumptuosidade marcam pontos. «Los Angeles» é o expoente máximo deste «Rose Kennedy». Exercício pop com a «cidade dos anjos» como pano de fundo. «Les Roses Et Les Promesses» e «Rose Kennedy» estão ao mesmo nível enquanto «Les Joggers Sur la Plage» só engrandece a vertente cinematográfica da música de Benjamin Biolay. Registe-se que a «companheira de estrada» Keren Ann também surge na ficha técnica deste «Rose Kennedy», sem dúvida um dos grandes debuts da geração 2000.
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Depois do matrimónio, em 2002, com a actriz Chiara Mastroianni, Benjamin Biolay regressa aos discos em 2003 com o magnífico duplo álbum «Négatif». No ano seguinte e com a ajuda da sua actual ex-mulher (divórcio com Mastroianni ocorreu em 2005) surge Home, um projecto que nos deu um agradável conjunto de canções solarengas e pensadas para as viagens de carro. O resultado é uma autêntica banda sonora de um qualquer road movie norte-americano, apesar do francês dominar. A folk ganha terreno em relação à voluptuosidade característica em Biolay. Os temas são mais simples, o ambiente é calmo e sereno e no horizonte surge o deserto da Califórnia. Porém, a vertente sussurrante da chanson française também está presente, reflectindo de alguma forma as limitações vocais de Chiara. Nada que não nos impeça de repetir a viagem e locais como «La Ballade Du Mois De Juin», «Folle De Toi», «Quelque Part On M'Attend» vezes sem conta.
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Poucos meses depois de Home, Benjamin Biolay atira-se definitivamente às bandas sonoras. «Clara Et Moi» foi a película seleccionada. A música volta a apresentar-se em bom nível. O requinte é de novo convocado mas a densidade não é tão forte, como nos dois exercícios anteriores em nome próprio. Dos 15 temas que compõem o disco só um não saiu do imaginário Benjamin Biolay, estando incluído «Au Coin Du Monde (Streets Go Down)» de Keren Ann. Se «Rose Kennedy» era aveludado e «Home» foi pensado para o asfalto, este «Clara Et Moi» é feito para o coração. O início, com «Eden Luxembourg», espalha uma certa leveza musical que associamos a uma qualquer história simples (e não banal) de «Garçon répond fille». De acordo com o grafismo do disco e do filme pensamos que «acertou na mouche». A determinada altura, desta autêntica viagem Benjamin Biolay, sentimos a crescente enculturação pela pop anglo-saxónica e apesar de termos andado perdidos pela route 66 em «Home», agora a produção é mais universal e a influência de universos como Moby e Yann Tiersen sente-se mais intensamente. Já nos ending credits ouvimos composições mais clássicas e ao piano de Benjamin. Uma banda sonora irregular mas que não nos deixa de apresentar belíssimos temas do universo BB.
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Chegamos a 2005 e Benjamin Biolay, já divorciado de Chiara Mastroianni, adensa as suas tendências melancólica e anglo-saxónica com «A L’Origine». O disco, radicalmente diferente do que já tinha realizado, é capaz de ser (a par da banda sonora «Clara Et Moi») o registo menos conseguido da carreira de BB. O rock entra de rompante em cena, mas a electrónica apurada, associada à chanson française, não é totalmente esquecida. «À L’Origine», o tema de abertura, soa ao conterrâneo Arthur H (o que não o desmerece), «Mon Amour M’A Baisé» (com a participação especial de Françoise Hardy) e «Ground Zero Bar» recordam os belgas dEUS na fase «The Ideal Crash» (o que também não lhe fica nada mal), mas depois os ensejos maçudos The Edge / U2 parecem afogar o génio de Benjamin Biolay. «Dans Mon Dos» ainda traz o espírito mais clássico de BB, mas pela primeira vez soa a «já ouvido». «L'Histoire D'Un Garçon» e «Cours» aventuram-se por terrenos indie, mas a fotografia fica tremida e muito desfocada. A contemplação de «Paris, Paris», os beats embebidos de «L'Appat» e a despedida ao som dos Sparklehorse com «Adieu Triste Amour» (também com a voz de Françoise Hardy) ainda se safam, mas no fim «À L’Origine» revela-se uma manta de retalhos sem emenda possível. O primeiro grande tiro ao lado de Benjamin Biolay.
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Relativamente aos Interpol, o EP «Evil» foi a razão para mais um encontro comercial. «Evil» é, porventura, a melhor canção de «Antics», o segundo álbum dos nova-iorquinos. Por isso mesmo julgamos que carece de quaisquer apresentações. Como lados-b encontramos as gravações BBC de «Evil» e «Narc» (outro dos grandes temas de «Antics»), para o programa radiofónico de Zane Lowe, e «Song Seven», uma mescla da serenidade rock de «C’mere» com o aparente desespero de «Narc». Como extra é-nos oferecido o vídeo de «Slow Hands» (primeiro single retirado de «Antics»). O disco não acrescenta nada ao reportório Interpol, mas soube e sabe tão bem ouvir a empatia existente à guitarra entre Paul Banks e Daniel Kessler…
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Como amostra desta visita tasqueira deixo a versão single (mais dançável, mas menos cativante) de «Los Angeles», o soberbo tema de Benjamin Biolay retirado do fantástico debut «Rose Kennedy».
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segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Kurt's goodies

Voltamos, por breves instantes, a Kurt Wagner e ao concerto do passado dia 17 de Outubro no Santiago Alquimista para destacar os dois trabalhos, em forma de bootleg, disponíveis à saída. Para os repetentes de espectáculos Lambchop as edições especiais de suporte às várias digressões da banda não são novidade. A recente passagem por Lisboa de Kurt Wagner não fugiu à regra e após o agradável mas longo concerto, o próprio Kurt dirigiu-se para a saída da sala e com um generoso e comercial autógrafo ajudou a vender umas quantas cópias de «Kurt» e «Succulence - Live In Vienna» (este último já disponibilizado na visita dos Lambchop, a 10 de Dezembro de 2006, na Aula Magna).
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A gravação de «Succulence - Live In Vienna» mostra um dos concertos que serviram de apresentação a «Damaged», o último álbum de originais dos Lambchop. Gravado a 8 de Setembro de 2006, o alinhamento vive, como seria de esperar, do oxigénio emanado das composições de «Damaged» (disco que apesar de não mostrar o melhor do colectivo norte-americano, também não lhes envergonha a cara). Por isso, a harmonia de «Paperback Bible», o smooth jazz de «Prepared», a faceta mais pop de «The Rise And Fall Of The Letter P», a serenidade folk de «A Day Without Glasses» e «Fear» e o delírio folk hip-hop de «The Decline Of Country And Western Civilization», revelam uma banda com talentos firmados e com um conjunto de canções capazes de construir excelentes espectáculos ao vivo. Todavia, são os três temas do extraordinário «Is A Woman», «The Daily Growl», e os soberbos «The New Cobweb Summer» e «Catapillar», que marcam mais uma vez a diferença e dão um toque de génio a este «Succulence». Destaque final para «The Militant», de «How I Quit Smoking», que também dá os ares da sua graça.
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Mudamos de CD e, por momentos, sentimos que a aparelhagem difunde o espectáculo de Kurt Wagner no Santiago Alquimista. «Kurt» foi registado a 6 de Agosto de 2006 num estúdio de Nashville por Mark Nevers e reflecte, de uma maneira geral, a digressão que Wagner apresenta por estes dias na Europa, incluindo temas novos e a inconfundível versão de «Chelsea Hotel #2», de Leonard Cohen. Tal como exposto aquando do concerto, aqui encontramos as canções tal e qual como vieram ao mundo, despidas de qualquer arranjo adicional às melodias base e à inconfundível voz de Kurt Wagner. Porém, em disco o «estendal de canções» revela-se menos pesado. Mesmo sem a restante família Lambchop, os temas sabem a leite condensado, a voz surge no seu esplendor máximo, a sensibilidade está à flor da pele e a admiração por Kurt Wagner e os seus Lambchop aumenta. É impossível resistir à folk minimalista de «Slipped Dissolved And Loosed», «A Hold Of You» e «Playboy, The Shit» (este retirado da compilação «The Decline Of Country And Western Civilization»). «Popeye» traz consigo um «sha la la la la la» delicioso, em jeito de lullaby, para depois terminar numa guitarrada western. «Sharing A Gibson With Martin Luther King Jr.» e «Stand» são as habituais gracinhas à Kurt Wagner (tal como a história do lápis em «A Hold Of You»). «Chelsea Hotel #2» peca por não se ter dado a conhecer antes da sublime interpretação de Rufus Wainwright (incluída na banda sonora do documentário «Leonard Cohen: I’m Your Man»). A confissão de «It’s Impossible» (também registada em «The Decline...») convence-nos e sem saber porquê tomamos o partido de Kurt. «Of Raymond» retrata um dos mais recentes ódios figadais de Kurt Wagner (o programa televisivo «Everybody Loves Raymond») e o fecho é ao som do agradável instrumental «Marking The Same Spot». Ao cabo de 42 minutos sentimos um leve desejo em conhecer as novas composições com os restantes Lambchop. Todavia, esse registo só está previsto para 2008 e por isso mesmo vale mais rendermo-nos a este «Kurt».
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Em forma de despedida deixo em airplay o vídeo de «Is A Woman», o lindíssimo tema título do fantástico álbum de 2002.
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sábado, 20 de outubro de 2007

Bloc Party | Flux

Depois da edição do difícil segundo álbum e do relativo insucesso em dar seguimento ao manifesto indie pop rock de «Silent Alarm», os Bloc Party voltam à carga com um novo single. Às primeiras audições «Flux» parece abrir novos caminhos para Kele Okereke e companheiros. A electrónica surge finalmente de uma forma clara na música do colectivo e é impossível dissociarmos esta nova aposta dos conterrâneos New Order.
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Enquanto o formato CD-single não chega aos escaparates (marcado para o próximo dia 12 de Novembro), deixo o vídeo de «Flux», uma autêntica balbúrdia alienígena à moda Power Rangers, realizado por Ace Norton.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Kurt no(s) caminho(s) de Santiago

«Damn, I’ve got too many songs», confessa Kurt Wagner a determinada altura da noite. Algum do público presente no Santiago Alquimista dava os primeiros sinais de cansaço quando Kurt, com um sorriso nos lábios, voltava a revolver os ‘leftovers’ das inúmeras cábulas das canções seleccionadas para a sua mais recente digressão europeia. Na mochila trazia alguns dos temas que farão parte do próximo álbum de originais dos Lambchop e canções mais antigas, as quais foram apresentadas tal e qual como vieram ao mundo. Despidas de qualquer arranjo e sem o habitual trabalho de produção, mas com o melhor que há em cada uma delas, a melodia, as «dementes» peripécias do mundo Wagner (palavras do próprio) e a voz. Não é novidade para ninguém, Kurt Wagner é detentor de uma das mais singulares vozes no panorama alternative-country da actualidade e é um dos pontos de maior interesse nos Lambchop. Desta forma e apesar do relógio marcar 1:00 da manhã, a música continuava a preencher o palco e as almas presentes, tendo o autêntico «estendal de canções» construído em palco transmitido uma vertente mais experimental e divertida ao espectáculo. Ninguém, até então, tinha dado pela falta do restante clã Lambchop, pois a essência musical, o bálsamo da passada noite de 17 de Outubro, estava presente. Houve tempo e espaço para perguntas e respostas, pequenas confissões e algumas piadas. Não estivéssemos nós a meio de mais uma semana de intenso trabalho, o cansaço não se sentiria tanto e a comunhão entre artista e público ter-se-ia prolongado até o amanhecer.
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Na primeira parte desta autêntica maratona Kurt Wagner esteve Mazgani. Com um conjunto de temas competentes, associados ao universo Nick Drake, Shahryar Mazgani portou-se à altura, captando a atenção do público e aquecendo o ambiente Alquimista. Destaque para a versão de «The Desperate Kingdom of Love» de PJ Harvey. «Song Of A New Heart», editado no passado dia 15 de Outubro, já se encontra nos locais habituais e de acordo com a amostra promete.
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Como recuerdo deixo os dois temas que fecharam a mais recente passagem de Kurt Wagner por Portugal, «Up With People» e «Chelsea Hotel # 2», uma surpreendente versão do original de Leonard Cohen (compositor também revisitado por Mazgani, com «If It Be Your Will»).
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terça-feira, 16 de outubro de 2007

2007 | Viagens à tasca em período de férias VIII

Após 3 dias estupendos em Zürich, voltamos a meter-nos no comboio, seguindo viagem para Luzern. O tempo era escasso e o corpo já ansiava pelo conforto do lar, por isso a visita foi rápida. A cidade, à semelhança de Bern, revelou-se pacata, mas um pouco mais agradável. Todavia, em termos de tascas a oferta foi parca. Salvou-se o local CityDisc, situado na estação ferroviária.
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Vierwaldstätter See

Como mencionei no início destas viagens, um dos maiores objectivos era conhecer e/ou aprofundar algum do reportório local (suíço, francófono e/ou germânico). Enquanto, numa primeira fase, percorríamos as ruas de Genève rendemo-nos ao minimalismo de Keren Ann. Pelas ruas de Luzern, com o alemão a dominar, decidimos apostar nos germânicos Tocotronic. Composto inicialmente por Arne Zank (bateria), Jan Müller (baixo) e Dirk Von Lowtzow (voz e guitarra), os Tocotronic reuniram-se em 1993 na cidade de Hamburgo. Catorze anos volvidos, durante os quais editaram sete álbuns e acolheram Rick McPhail nas guitarra e keyboards, os Tocotronic são uma das bandas mais respeitadas na Alemanha. Por isso e apesar do meu espanto inicial, «Kapitulation» (oitavo trabalho de originais) obteve grande destaque por parte das «record stores» suíças. Enquanto a hora do regresso a Genève não chegava, matámos a curiosidade e ouvimos os Tocotronic e como o título do álbum anuncia, capitulámos mais uma vez ao vício.

Influenciados pelo movimento indie rock de finais dos anos 80 e inícios de 90, facilmente identificamos, nas entrelinhas deste «Kapitulation», nomes como Nirvana, R.E.M., Pavement, The Smiths, Sonic Youth ou Radiohead. «Mein Ruin», tema de abertura, prossegue o caminho deixado em aberto pelos … And You Will Know Us By The Trail Of Dead com o fora-de-série «Source Tags & Codes». «Kapitulation» junta a pop sem sal dos Razorlight ao espírito R.E.M. indie dos anos 80 e o resultado é bem aceitável. «Aus Meiner Festung» expõe os Sonic Youth de hoje a revisitarem a sua juventude sónica e suja dos anos 90. Em «Wir Sind Viele» pedem ajuda aos Mão Morta e o resultado é um dos melhores temas do álbum. Com «Harmonie Ist Eine Strategie» e «Explosion» conhecemos a vertente mais doce dos Tocotronic e através de «Sag Alles Ab» recordamos os Sex Pistols. «Imitationen» é quase a versão alemã dos The Smiths e tanto «Dein Geheimer Name» como «Luft» parecem descendentes de «Ok Computer». Enfim, o feedback das guitarras é constante, mas a harmonia está presente e dessa forma nem damos conta da estranheza da língua.

Como aperitivo deixo «Kapitulation», o único single extraído do álbum com o mesmo título.
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segunda-feira, 15 de outubro de 2007

José González | Teardrop

Parece que voltamos às covers. Desta vez a escolha recaiu sobre o mais recente single do sueco, com ascendência argentina, José González. Depois de se mostrar ao mundo com «Heartbeats» (original dos também suecos The Knife) e de ter a ousadia merecida de editar a sua interpretação do hino «Love Will Tear Us Apart» (dos Joy Division), atira-se de corpo e alma a «Teardrop» dos Massive Attack e o resultado é mais uma vez surpreendente.
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domingo, 14 de outubro de 2007

2007 | Viagens à tasca em período de férias VII

Continuando a saga do período de férias…

Antes de seguirmos viagem para nova cidade descobrimos, numa rua secundária de Zürich, o CD STUDIO – AG. O espaço revelou-se especial e muito bem composto. O ambiente era acolhedor, a música também e as pessoas hospitaleiras. Porém a vida é feita de escolhas e desta vez a selecção final passou pela edição especial de uma das últimas obras-primas pop/rock editadas, o debut dos escoceses Franz Ferdinand; a mais recente edição dos norte-americanos Shivaree e o volume III da colectânea «American Recordings» de Johnny Cash.

Zürich Hauptbanhof

Relativamente aos aclamados Franz Ferdinand e ao soberbo homónimo álbum de estreia da banda escocesa, julgo que não haverá muito a acrescentar a tudo o que já foi dito. A compra serviu para o devido upgrade da edição standard de «Franz Ferdinand» (um bem haja a quem efectuou o upgrade à cópia pirata da mesma edição standard). Porém, e como seria de prever a música voltou a seduzir. Com o serviço a milhares de kms e o telemóvel em off, foi um regalo reencontrar «Jacqueline» e cantar em uníssono «It’s always better on holiday / So much better on holiday / That’s why we only work when / We need the Money»; Como nos encontrávamos numa entusiástica cidade suíça alemã «Ich heisse super fantastische» fez mais sentido e a música dos Franz Ferdinand incendiou ainda mais as hostes («This fire is out of control / I’m going to burn this city / Burn this city / If this fire is out of control / Then I / I’m out of control / And I burn»). Nunca um disco punk rock pareceu tão dançável e nunca a expressão pop&roll fez tanto sentido como em «Franz Ferdinand». «Take Me Out» é, e será, um dos grandes hinos da geração 00; para muitos o «Paranoid Android» dessa mesma década. Apesar de não serem maníaco-depressivos, o colectivo apresenta tendências bipolares, havendo canções em que surgem diferentes temas justapostos. No fim o resultado é um autêntico caleidoscópio de cores e sons. O ritmo contagia, a seiva das canções é doce como o mel e o festim está sempre garantido. «Jacqueline», «Take Me Out», «The Dark Of The Matinée», «Auf Achse», «Darts Of Pleasure», «Michael» e «This Fire» merecem figurar na lista dos melhores temas editados nos últimos quase 8 anos.

Como bónus desta edição especial encontramos a versão single de «This Fire» (no caso «This Fffire», produzida por Rich Costey) e os lados-b de «Darts Of Pleasure» («Van Tango» e «Shopping For Blood») e de «Take Me Out» («All For You, Sophia» e «Words So Leisure», a versão acústica de «Darts Of Pleasure»). O swing punk pop rock continua lá e esta reentrada em cena serviu para amenizar as constantes incursões na junk-food e kebab.

Voltamos a tropeçar nas surpreendentes promoções helvéticas aos «American Recordings» de Johnny Cash. Desta vez o tropeção foi no volume III, intitulado «American III: Solitary Man». Mais uma vez Johnny Cash apresenta-se ao seu melhor nível. Mais uma vez o minimalismo das interpretações marca pontos. Mais uma vez a selecção de versões é surpreendente. E mais uma vez a parceria de Johnny Cash com Rick Rubin arrecadou um Grammy, na categoria de melhor performance country masculina com a magistral gravação do tema título (uma versão de Neil Diamond). Traído pela sua saúde fragilizada, «Solitary Man», editado em 2000, foi a resposta musical de Johnny Cash à crescente debilidade física. O tema de abertura marca um pouco o sentimento de Johnny Cash. «I Won’t Back Down» (original de Tom Petty) é um autêntico testemunho de resistência («You can stand me up at the gates of hell / But I won’t back down»), tal como a superior versão de «The Mercy Seat» de Nick Cave («And I’m not affraid to die»). Desta vez a lista de convidados passa por Will Oldham, Tom Petty e Sheryl Crow. As interpretações Cash de universos mais ou menos reconhecíveis são os já referidos «I Won’t Back Down» (Tom Petty), «Solitary Man» (Neil Diamond), «The Mercy Seat» (Nick Cave) e ainda «One» (U2), «I See Darkness» (Will Oldham) e «Wayfaring Stranger» (tema tradicional dado a conhecer pelos saudosos 16 Horsepower). Quanto a originais, encontramos um apetitoso «Before My Time» e algumas reinterpretações de temas com marca registada Johnny Cash, das quais se destaca «Field Of Diamonds» que conta com a participação de June Carter Cash e Sheryl Crow. Mais um grande disco de Johnny Cash e Rick Rubin!
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Chega a vez dos Shivaree. Desde que Ambrosia Parsley surgiu no éter a dar as «boas noites à lua» que faço por dar atenção a este colectivo norte-americano. Os discos são medianos, é verdade, mas encontramos sempre três ou quatro pérolas dignas de registo. Desde o tema de maior sucesso «Goodnight Moon» aos radio-friendly «I Close My Eyes» e «John 2/14», do melancólico «Oh No» aos lânguidos «Daring Lousy Guy» e «Arlington Girl», do belíssimo «New Casablanca» aos devaneios pop qualquer coisa de «Bossa Nova» e «Pimp». Não fosse o suficiente para adquirir o mais recente «Tainted Love: Mating Calls And Fight Songs», deparei com um disco de versões. Há dias confessei a minha paixão pelo formato EP, hoje tenho de revelar a minha admiração pelas covers. Para a gravação deste «Tainted Love» Ambrosia Parsley convocou não só os dois parceiros habituais (Danny McGough e Duke McVinnie) como também Benjamin Biolay, Mickey Petralia, Chris Maxwell, Phil Hernandez, Mathew Cullen, Doug Weiselman e Scott Bondy, todos eles instrumentalistas, todos eles produtores. Desta forma, cada um produziu e ajudou a edificar um ou mais temas de «Tainted Love». O disco, como informa o sítio electrónico oficial, serve para relembrar as primeiras estórias amorosas que se vive(ra)m na adolescência: o primeiro encontro, o primeiro namoro, o primeiro beijo, etc. Para que tudo corresse da melhor forma Ambrosia seleccionou alguns temas que tratam o Amor por Tu. Bette Midler (com a ajuda de Phil Spector), Chuck Berry, R. Kelly, Michael Jackson, Tanya Tucker, Gary Glitter, Ike Turner, Rick James, Möntley Crüe, Spade Cooley e Led Belly foram as escolhas finais. Mais uma vez o disco é mediano e mais uma vez encontramos agradáveis surpresas, como são os casos do smooth alucinatório «Don’t Stop ‘Til You Get Enough» de Michael Jackson (que contou com a ajuda de Doug Weiselman); o folk R&B em «Half On A Baby» de R. Kelly (produção de Mickey Petralia); a harmonia de «Paradise» original de Phil Spector mas interpretado por Bette Midler (com a marca registada Benjamin Biolay); a pop açucarada em «Hello! Hello! I’m Back Again» de Gary Glitter (com o dedo de Danny McGough); o rock em «Cold Blooded» de Rick James (participação de Phil Hernandez); a interpretação muito ao jeito cabaret de «Looks That Kill» dos Möntley Crüe (mais uma vez com o auxílio de Phil Hernandez); e a despedida em «Goodnight, Irene» popularizada pelos Lead Belly (que contou com a ajuda de Chris Maxwell). Não estamos perante o melhor dos Shivaree, é verdade. Contudo, para que tal fosse possível teríamos que efectuar uma cuidada triagem a todos os registos do colectivo, juntando o melhor num só álbum. Enquanto isso não acontece, vamos esperando por encontrar mais jóias Shivaree.

Como destaque final, apresento uma das últimas gravações dos Franz Ferdinand, a cover de «All My Friends» dos não menos aclamados LCD Soundsystem. Registe-se que o vídeo é realizado por Anna McCarthy, irmã do guitarrista Nick McCarthy.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Somewhere betwe(in) rainbows

Enquanto ninguém o fazia prever, em menos de duas semanas os britânicos Radiohead anunciaram e disponibilizaram via Internet o sucessor de «Hail To The Thief». «In Rainbows», sétimo trabalho da banda, foi «editado» em formato MP3 no passado dia 10 de Outubro ao preço que cada um desejar.
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O formato CD só chegará (através de encomenda efectuada no sítio electrónico do colectivo) a partir de dia 3 de Dezembro. Edição que além das 10 composições de «In Rainbows» incluirá ainda dois discos em vinil de 12 polegadas com temas adicionais e um segundo CD com essas mesmas canções. Tudo por £ 40 (portes incluídos).
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Enquanto o álbum não é digerido de forma adequada deixo como aperitivo a versão ao vivo de «Nude», um dos novos temas dos Radiohead.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Nirvana a anunciar época natalícia

Apesar de estarmos ainda no início de Outubro, a chegada da época natalícia já começa a agitar o mercado discográfico. A primeira das muitas «caixas de bombons» que se avizinham já foi anunciada. A histórica contribuição dos Nirvana para a série MTV Unplugged chegará, finalmente, ao formato DVD. O lançamento está previsto para o próximo dia 19 de Novembro. O concerto, registado nos estúdios da MTV em Nova Iorque no dia 18 de Novembro de 1993, tornou-se no melhor capítulo da mencionada série. O alinhamento do DVD será idêntico ao formato CD, o qual inclui dois temas nunca transmitidos via MTV («Oh Me» e «Something In The Way»). Como extras serão disponibilizadas entrevistas com os músicos, imagens dos ensaios e um documentário de bastidores. Razões de sobra para voltar a colocar os Nirvana nas listas de vendas de todo o mundo.
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Enquanto o disquinho visual não chega, deixo como recordação «The Man Who Sold The World», a surpreendente versão do tema de David Bowie que se revelou numa das grandes novidades apresentadas em 1993 e fez história em 1994 (com a edição, em CD, de MTV Unplugged).

sábado, 6 de outubro de 2007

2007 | Viagens à tasca em período de férias VI

Por entre as visitas a museus, monumentos e locais de interesse de Zürich, lá damos de caras com uma nova tasca. A segunda paragem deste autêntico «raide às tascas» em Zürich foi um tentáculo da rede de lojas Jecklin. Mais uma agradável surpresa. A oferta destacou-se pela quantidade e qualidade. Como não podíamos trazer a loja, lá optámos pelos disquinhos que mais brilharam aos meus olhos, as estreias de Martha Wainwright e dos The Shins.
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Limat - Zürich
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A família Wainwright é cada vez mais um caso a seguir de perto. Não bastasse o pai de família ser Loudon Wainwright III e a mãe Kate McGarrigle, que com a tia Anna formam o duo Kate & Anna McGarrigle, os frutos desta relação são dois dos maiores ícones da pop clássica actual. Se Rufus Wainwright dispensa quaisquer apresentações, a irmã mais nova Martha Wainwright, apesar das muitas colaborações em álbuns dos restantes membros da família Wainwright e de artistas como Gordon Gano (dos Violent Femmes), Teddy Thompson e Snow Patrol, só em 2005 editou o seu LP.
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É certo que esporadicamente e desde 1999 que Martha grava e edita EPs (sobre os quais falaremos mais à frente), mas o reconhecimento e a glória surgiu com o debut homónimo. Martha deixou de se camuflar atrás de outros nomes e, sem medos, gravou uma das mais doces e elegantes colecções de temas pop. Se quota-parte da admiração que parece existir por Rufus se baseia no timbre de voz, a irmã não lhe fica nada atrás. Temas como «Far Away», «Factory», «Don’t Forget», «This Life», «When The Day Is Short», «Bloody Mother Fucking Asshole», «Who Was I Kidding?», «Whither Must I Wander» e «The Maker» (com a participação especial de Rufus) destacam-se pela interpretação de Martha. Porém, o fascínio por este «Martha Wainwright» não se cinge aos atributos vocais e interpretativos de Martha. Cada tema é singular, uma visão deliciosa dos vários mundos em que Martha se move. São pedaços celestiais, grandiloquentes. A cada instante sentimo-nos mais envolvidos pela voz e sensibilidade de Martha Wainwright. No fim fica um cansaço voluptuoso de uma longa noite de amor… Embora possa parecer estranho, o irmão Rufus, que nos visitará no próximo dia 6 de Novembro, não conseguiu seduzir tanto na sua estreia discográfica.

Como bónus, tivemos a sorte de encontrar a edição especial de «Martha Wainwright» e com isto temos direito a mais três canções, temas incluídos previamente em EPs, onde se destacam «Bring Back My Heart», que conta com a ajuda de Rufus, e a lindíssima e desconcertante versão de «Dis, Quand Reviendras-Tu?», de Barbara. Não bastasse estarmos de férias e numa cidade encantadora, Martha Wainwright entrou em cena e revigorou o espírito e a alma.
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A segunda aposta, também um verdadeiro achado para a realidade tasqueira portuguesa, recaiu sobre a estreia discográfica dos norte-americanos The Shins. «Oh, Inverted World» é o início de mais uma viciante história de admiração. Por aqui tudo começou com Natalie Portman, em «Garden State», a afirmar que os The Shins são capazes de mudar as nossas vidas. «New Slang» era o mote para a confissão. Na tela, o rapaz após conhecer a rapariga tentava arranjar assunto para conversa e a “pequena”, um pouco envergonhada de início, refugiava-se nas doces melodias dos The Shins para não ceder aos encantos de Zach Braff. É este o ponto exacto onde os The Shins fazem a diferença e nos podem virar a vida do avesso: as melodias e consequentes construções pop. As influências são mais que muitas e vão desde os The Beach Boys aos Gorky’s Zygotic Mynci, dos The Cure aos Love, dos The Magnetic Fields aos Neutral Milk Hotel, dos The Byrds a Elliott Smith, ou mesmo dos Belle & Sebastian aos Echo & The Bunnymen. Porém, influências à parte, centremo-nos na música dos The Shins que vale por si só. «New Slang» é um autêntico toucinho-do-céu (claro que aqui a sobremesa escolhida depende sempre dos gostos de cada um). «Caring Is Creepy», um dos temas mais psicadélicos do álbum, junta os The Cure da sua fase mais harmoniosa aos The Beach Boys e o festim freak (leia-se indie) é garantido. «One By One All Day» mantém o estado alucinogénico e à segunda faixa o ouvinte capitula perante as substâncias traficadas. «Weird Divide» dá um ar mais tranquilo, mas mesmo assim telúrico a «Oh, Inverted World» e «Know Your Onion!» volta a recuperar os sons da década de 60, com os teclados à The Doors a marcarem presença. «Girl Inform Me», «The Celibate Life», «Girl On The Wing» e «Pressed In A Book» mantêm os espírito 60’s e a sedução é permanente. Destaque ainda para «Your Algebra» que recupera os devaneios Pink Floyd, na fase Syd Barret, e «The Past And Pending» que fecha «Oh, Inverted World» em espírito The Beatles.
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Se Martha Wainwright veio revitalizar a alma e espírito, os The Shins, com este «Oh, Inverted World», preencheram um vazio que existia na colecção de discos lá de casa, completando a discografia destes norte-americanos.
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Como aperitivo desta última e mais proveitosa colheita durante as férias de 2007 deixo «Factory», uma das pérolas incluídas em «Martha Wainwright».
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quinta-feira, 4 de outubro de 2007

2007 | Viagens à tasca em período de férias V

Como tive a oportunidade de salientar no último capítulo, a passagem por Bern foi ao estilo «visita de médico». No entanto, diga-se de passagem que a capital política helvética não apresentou grandes locais de interesse (a chuva também não ajudou muito). Seguimos então para Zürich e nova cidade, novo tombo.

Zürich revelou-se uma cidade encantadora. Moderna, jovem, rebelde, e ainda assim politicamente correcta. À luz do dia os habitantes parecem respirar uma inquietude que se revela ao raiar da noite. Um desassossego contagiante que não deixa ninguém indiferente.
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Zürich
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Não fossem razões de sobra, Zürich está repleta de tascas. Em cada canto parece surgir uma mega e/ou microstore. Por isso segui a velha máxima de melhor curar ressacas: 'prolongando a bebedeira'…

A primeira paragem teve o selo de qualidade da Musikhug, um dos estabelecimentos mais completos visitados até a data. Contudo, e apesar dos vários andares com as mais variadas secções e departamentos, a selecção pop/rock destacou-se pela negativa. Os principais aliciantes desta tasca passam pela música clássica, pelo Jazz e pelos instrumentos musicais. Nada contra a música clássica, nada contra o Jazz e nada contra os instrumentos. Mas em período de férias há que ingerir alguns doces… Desta forma ao primeiro contacto com os «aromas» de Zürich, a preços abaixo do mercado português, optámos por aprofundar o culto Johnny Cash e, mais uma vez, fazer o upgrade da cópia lá de casa do debut dos britânicos Hard-Fi.
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«Stars Of CCTV» foi gravado, produzido e editado (por apenas £ 300) em Outubro de 2004 pelos próprios Hard-Fi. As primeiras 500 cópias rapidamente esgotaram. Já em Junho de 2005 e após o sucesso alcançado em concertos e do culto que andava «de boca em boca», a Another Necessary Record recupera o disco. O inconformismo e urgência de Richard Archer e companhia (muito ao estilo de uns The Clash e Sex Pistols) revelam-se numa mais valia desta autêntica colecção de singles. Política, dinheiro, subúrbios e desilusões são os temas de preferência. Mas a música também marca pontos e o rock açucarado de uns Franz Ferdinand, The Strokes, ou mesmo Dexy’s Midnight Runners, ajudam a engrandecer as suas composições pop&roll. «Cash Machine», «Tied Up Too Tight», «Living For The Weekend», «Better Do Better» e «Hard To Beat» encheram o éter e os tops europeus em 2005 e após a nomeação para o Mercury Prize publicações como o semanário NME, a revista Q e o tablóide The Sun não hesitaram em eleger «Stars Of CCTV» como «álbum do ano». Por aqui e enquanto não conhecemos o novo «Once Upon A Time In The West» vamos contemplando as 11 estrelas da constelação «Stars Of CCTV».
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Voltamos a Johnny Cash e aos seus American Recordings. O volume que desta vez encontrámos em promoção foi o primeiro, o original «American Recordings». O álbum, aclamado por meio mundo, venceu o Grammy para melhor álbum de folk contemporânea e, com a ajuda preciosa de Rick Rubin, ressuscitou a carreira de Johnny Cash. A ideia, o desejo e o segredo para o sucesso da parceria Rubin & Cash era captar a essência da música e espírito de Johnny Cash. O minimalismo assumia o papel principal. Cash pegava na sua guitarra e interpretava temas novos e algumas versões. Enquanto exercícios como «Delia’s Gone» (primeiro single que contava com a participação de Kate Moss no vídeo promocional, realizado por Anton Corbijn), «Let The Train Blow The Whistle» e «Redemption» faziam as delícias dos já inúmeros seguidores de Cash; versões de artistas mais contemporâneos, como Tom Waits («Down There by the Train»), Leonard Cohen («Bird On A Wire») e Loudon Wainwright («The Man Who Couldn’t Cry») abriam as portas a novas audiências. Johnny Cash era de novo aplaudido por críticos e público. Já em 2003 a revista Rolling Stone incluiu «American Recordings» na lista dos 500 melhores álbuns de todos os tempos (posicionando-se na 364.º posição). «The Man Who Cames Around» parece estar uns pontos acima deste «American Recordings», mas o essencial continua lá e Johnny Cash mantém o nível habitual.
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Como destaque final deixo a rodar o novíssimo single dos britânicos Hard-Fi. «Suburban Knights» está incluído no mais recente «Once Upon A Time In The West», o segundo álbum da carreira da banda, e evidencia-se por estar alguns pontos abaixo de qualquer tema do debut «Stars Of CCTV».
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terça-feira, 2 de outubro de 2007

Commercials killed the TV stars?

A televisão continua a ser um dos meios mais eficazes para a divulgação de qualquer tipo de produto. Em inícios dos anos 80, com o aparecimento do canal televisivo MTV, a música passou igualmente a ser divulgada a qualquer hora do dia. Porém, essa difusão não passa somente pelos «blockbusters» que promovem as mais recentes apostas discográficas. Neste particular o anúncio publicitário tende a ganhar terreno.
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O que seriam os norte-americanos The Dandy Warhols sem a marca de telecomunicações que já patrocinou as camisolas do Benfica e do Manchester United? E os dinamarqueses Mew que até à data têm provado ser mais um caso «One Hit Wonder» com o Óptimo conforto sonoro? E os Bloc Party? Será que teriam alcançado o posto que ocupam sem o já mencionado ex-patrocinador de dois dos maiores clubes mundiais? E o caso de Nick Drake que, decénios após o seu desaparecimento, se viu a dar música no autorrádio de uma das mais prestigiadas marcas de automóveis? E Moby????

O facto é que uma vez mais 20 segundos de um spot publicitário chegaram para revelar e encantar. Desta vez os escolhidos para promover o produto (que não a música) foram os suecos Peter, Bjorn & John. Formados em 1999, este colectivo indie só ganhou notoriedade no ano passado com o hit single «Young Folks». A Vodafone deu com eles e nós nem demos conta que andamos pelas as ruas a reproduzir os assobios de Peter, Bjorn, John & Victoria Bergsman (dos The Concretes).
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